A marca americana que simbolizava a fotografia de papel usa agora o mesmo veneno que a derrubou para reescrever sua história: a digitalização. Os bancos estão no alvo
Fundada em 1880 e responsável pela popularização da fotografia, a Kodak, entrou em concordata em 2012, com US$ 6,75 bilhões de dívidas. Nessa trajetória, um capítulo, é emblemático. Em 1975, a companhia inventou a câmera digital. No entanto, decidiu não lançar o produto, com receio de canibalizar as vendas de seus filmes fotográficos. Anos depois, a entrada tardia no segmento cobrou seu preço. A jornada da marca icônica, porém, não chegou ao fim. Em 2013, o fundo de pensão britânico KPP comprou a divisão de scanners e de softwares de captura de documentos da marca, por US$ 650 milhões, e rebatizou a empresa de Kodak Alaris.
Agora, a companhia quer imprimir uma nova página dessa história. Com uma receita de US$ 1,26 bilhão, a empresa busca dar um novo fôlego à antiga gigante de tecnologia. E sua maior aposta é justamente um dos fatores por trás do declínio da Kodak: a transição do papel para o digital. A estratégia passa pela oferta de scanners de menor porte aos clientes que já utilizam as grandes máquinas da antiga marca em suas retaguardas. “Temos o benefício de poder usar um nome muito forte, que abre portas e, ao mesmo tempo, estar em uma empresa pequena e mais ágil”, diz Vanilda Grando, diretora da Kodak Alaris para a América Latina. “As decisões são muito rápidas. ”
Os bancos são um dos mercados potenciais dos novos scanners. A ideia é agilizar processos como a abertura de contas, com a digitalização dos documentos dos clientes na ponta, pelos gerentes. Com essa finalidade, o Banco do Brasil comprou, recentemente, 28,5 mil equipamentos. No portfólio da Kodak Alaris, o preço dos scanners varia de R$ 2,4 mil a R$ 330 mil. Outro foco são os softwares de captura e envio de documentos. A prioridade é estender essas funções aos smartphones. “Já é possível fazer depósitos pela imagem do cheque enviada via celular”, diz Luciano Ramos, analista da consultoria IDC. No Brasil, além do setor financeiro, a Kodak Alaris mira mercados como saúde, com os projetos de prontuário eletrônico, e jurídico, com o avanço dos processos eletrônicos.
“A Kodak Alaris pode capturar muitos benefícios da marca Kodak, que ainda é sinônimo de qualidade e tecnologia”, diz Anne Valaitis, analista da consultoria InfoTrends. Esse vínculo já rende frutos no Brasil. Após herdar a liderança no mercado local de scanners, a Kodak Alaris ampliou sua participação de 56%, em 2015, para 60% nesse ano, segundo a InfoTrends. No País, as principais rivais são a taiwanesa Avision, a americana Brother e a japonesa Fujitsu. Vanilda afirma que a América Latina tem fôlego para figurar entre as principais operações da companhia. “Como somos mais enxutos que outras regiões, já estamos prontos para escrever essa nova trajetória. ”
Por: Moacir Drska
Foto: Biafra Cabral (Novo foco: a Kodak Alaris, de Vanilda Grando fatura R$1,26 bilhão)